Comunicação: a mais potente "tecnologia" da prática médica
Sitio: | Cursos de Extensão da USP |
Curso: | Curso CAE-AAPAV-35 |
Libro: | Comunicação: a mais potente "tecnologia" da prática médica |
Imprimido por: | Invitado |
Día: | lunes, 22 de julio de 2024, 23:28 |
Descripción
1. O que é comunicação?
"Aprender a comunicar-se é o primeiro passo para a
humanização do contato médico-paciente."
Rao
Para começar, vamos definir o conceito de comunicação. Em latim, "communicare" significa "partilhar, participar algo, tornar comum". O processo comunicativo pode ocorrer de maneira verbal e não-verbal, sendo composto por sete elementos (Tabela 1).
Tabela 1: Elementos da comunicação
Emissor | aquele que emite a mensagem |
Receptor | aquele que recebe a mensagem |
Mensagem | conteúdo que se deseja transmitir |
Código | conjunto de sinais que estão presentes na mensagem |
Canal | meio no qual a mensagem será transmitida |
Contexto | situação em que o emissor e receptor estão inseridos |
Ruído | ocorre quando a mensagem não é codificada pelo receptor |
Nota: Para que a comunicação seja efetiva é necessário que o receptor decodifique adequadamente a mensagem transmitida pelo emissor, evitando a presença de ruídos.
Uma comunicação em saúde efetiva aumenta o engajamento do paciente em seus cuidados e diminui o encaminhamento para outras especialidades e a realização de exames complementares desnecessários. Sendo assim, refletir sobre o processo de comunicação e entender como podemos intencionalmente aperfeiçoá-lo a fim de aprimorarmos a relação médico-paciente, faz-se importante, especialmente durante os atendimentos à distância.
1.1. Consenso de Kalamazoo
Uma interessante ferramenta para nortear o processo de comunicação médica é o Consenso de Kalamazoo. Embora originalmente elaborado para interações face-a-face, os seus pressupostos também são aplicáveis para o cuidado remoto. Nele são enumerados os elementos que guiam a troca de informações entre médicos e pacientes, com o objetivo de facilitar a identificação de pontos-chave do diálogo e as melhores atitudes a serem adotadas para cada situação, especialmente no contexto da comunicação de notícias difíceis (quadro 1).
Quadro 1: Consenso de Kalamazoo
Construção da relação
Abertura da discussão com valorização das queixas e comentários dos pacientes
Resumo e entendimento das informações
Compreensão da perspectiva do paciente e familiares sobre a doença
Orientação clara com checagem do entendimento das condutas
Estímulo à co-participação do paciente na tomada de decisões
Definição do plano de tratamento e do próximo encontro para seguimento
1.2. Comunicação médica na teleconsulta
No cenário da telemedicina, existem outros elementos que devem ser observados visando a facilitar a comunicação durante a teleconsulta (quadro 2). Adicionalmente a essas orientações, uma adaptação do protocolo para a comunicação de más notícias (SPIKES), foi recentemente sugerida para guiar a interação entre médico e paciente durante um encontro remoto.
Quadro 2: Comunicação médica durante a teleconsulta
Respeitar a privacidade durante a teleconsulta e garantir o sigilo dos dados, explicando que as informações trocadas na teleconsulta são confidenciais.
No início da consulta, perguntar se há outras pessoas presentes no local de atendimento além do paciente.
Alertar o paciente que, se necessário, poderá ser agendada uma consulta presencial para complementar o atendimento.
Explicar as limitações da teleconsulta, incluindo a impossibilidade do exame físico completo.
Assegurar uma rede de internet estável com boa transmissão de sons e imagens através dos equipamentos de áudio e vídeo.
Suspender ou silenciar o envio de notificações dos aparelhos eletrônicos para evitar interrupções na consulta.
Posicionar a câmera ao nível dos olhos e tentar estabelecer contato visual olhando para a câmera.
Posicionar-se em frente à parede de fundo neutro sem distratores.
Identificar e validar as emoções do paciente durante a consulta.
Ao conseguirmos atender a todas as recomendações apresentadas acima, estamos no caminho da construção de uma boa relação médico-paciente, baseada nos pressupostos da comunicação empática.
2. Empatia na relação médico-paciente
Em todo contexto que envolva a relação médico-paciente é importante falarmos sobre a EMPATIA, um outro elemento chave da comunicação médica. Essa habilidade tem ganhado status de condição sine qua non para a construção de bons relacionamentos interpessoais, e entender mais sobre ela é vital para compreendermos como estabelecer uma boa relação médico-paciente.
Empatia na relação médico-paciente
“I’ve learned that people will forget what you said, people will forget what you did,
but people will never forget how you made them feel.”
Maya Angelou
A empatia, tal qual a conhecemos hoje, pode ser definida como a habilidade cognitiva e emocional de compreendermos (empatia cognitiva) e sentirmos (empatia emocional) o que o outro sente.
Podemos dizer que a empatia é a nossa capacidade de mobilização para o outro. Ela desempenha um papel interpessoal e social crítico, permitindo o compartilhamento de experiências e necessidades entre os indivíduos, proporcionando a formação de um vínculo emocional que promove o comportamento pró-social.
Por muito tempo, acreditou-se que a empatia era uma habilidade inata e, portanto, que não poderia ser ensinada ou aprendida. No entanto, importantes estudos na área mostraram que essa competência humana é mutável e pode ser treinada e aprimorada, especialmente em profissionais de saúde.
A comunicação médica empática está associada a muitos benefícios, incluindo a melhora da experiência do paciente, a maior taxa de adesão às recomendações de tratamento e a melhores resultados clínicos. Adicionalmente, também está relacionada com uma redução da taxa de questionamentos judiciais por erro ou negligência médica. Apesar disso, estudos têm sugerido que a empatia pode diminuir durante a formação médica e durante a prática médica, e que diversos fatores podem estar envolvidos neste achado.
Um ponto a ser considerado é o conceito de autoempatia, um fenômeno frequentemente negligenciado, porém fundamental para garantir que os profissionais de saúde tenham as condições neuropsíquicas e biológicas para permanecerem empáticos com os outros. Quando estamos emocionalmente sobrecarregados ou nos sentindo explorados ou esgotados, nossa capacidade empática diminui. Por isso, é fundamental que, enquanto profissionais de saúde, tenhamos atenção à autoempatia e ao autocuidado, visando a manter níveis saudáveis de empatia.
2.1. Elementos não-verbais da comunicação empática
Do ponto de vista prático, para compreendermos os elementos da comunicação empática, podemos utilizar um acrônimo bem apropriado sugerido pela neurocientista e psiquiatra Hellen Riess (Tabela 2).
Tabela 2: Elementos da comunicação empática na relação médico-paciente
E - Eye contact: Contato visual
M - Muscle of facial expression: Músculos da expressão facial
P - Posture: Postura
A - Affect: Afeto
T - Tone of voice: Tom de voz
H - Hearing the hole subject: Ouvindo o outro por inteiro
Y - Your response: Sua resposta
Clique no link abaixo para assistir o TED Talk "O poder da empatia" com a dra. Hellen Reiss.